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Ao fim do dia, sem esperança de encontrar uma pedra de sal, uma gota de água que fosse para além da imensidão de plástico, regressaram aos destroços da nave. O capitão Flint, que usava uma tampa vermelha na cabeça, na companhia dos seus dois imediatos, o tenente George Eucalipto e o mais-que-tenente Alves Brick, acercou-se do sargento especialista Joe Gold Caparica.
O tenente Alves Brick estava exausto, tinha sede e já quase não se tinha de pé. Desde os tempos da academia que sofria de uma espécie de cegueira histérica que se manifestava nos momentos de aflição. Via apenas sombras e procurava desesperado a origem dos sons para se orientar. O pequeno robot de serviço estava completamente destruído, sem hipótese de concerto. No rosto inexpressivo do racional George, escrito a silêncio, era visível o anunciar da tragédia. Joe Gold Caparica perdera um braço durante a aterragem forçada, decepado numa porta automática de emergência. Esforçava-se por concertar o astro-rádio com a mão útil. Mas não era uma tarefa fácil, a hemorragia deixara-o demasiado fraco.
Quando a noite caiu naquele planeta azul cinzento acendeu-se uma luz junto à nave. Flint queimou numa pira os restos da tripulação. Ficou a observar o plástico que se derretia como um rio lamacento. Acendeu um cigarro e ficou a olhar o horizonte para lá da pira com um das mãos atrás das costas.

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