115


NA PELE DA FLOR DA PELE E OUTRAS HISTÓRIAS


(Amanhã na Galeria Municipal de Montemor-o-Novo, 18:30h)

Seguia na proa do barco, de pernas cruzadas, sentado no chão a ver rasgar o rio com o nariz distraído. Cheirava aquilo que o vento trazia no seu corpo de corrente de ar, e tinha na palma da mão um fio do mundo que apertava cerrando o punho tal qual se faz quando se espreme uma laranja. Era isso mesmo, como uma laranja. A travessia de barco era curta sem dar tempo a que os olhos se perdessem na paisagem igual quase do tamanho de uma coisa do tamanho de uma laranja. Não vivia ainda na companhia da minha mulher e dos nossos mais insondáveis sonhos quando conheci o marroquino. Não lhe poderia, por isso, ter contado que bonançosos esperávamos o nascimento do nosso primeiro filho, nem que haveríamos de morar longe deste sítio a tocar o mar. O trajecto sobre o rio fazia-se através desta gente humana que trepava aos cumes das coisas que existem na natureza, árvores, montanhas de lodos, lamas e casas sem pessoas lá dentro, canções tocadas em flautas de pau. De nada serve a paisagem quando não há dia, quando tudo em volta é como a noite sem luz. Acontecia ao mundo, por vezes, ficar sem sombra debaixo deste céu. Tomado de um tom pálido era da cor da terra seca, sabia a sal, sentia-se muito quente o ar quente.

Comentários

Anónimo disse…
Então, ficaste no 115?
Tem algo a ver com a aldrabice de saltares o 114?

Bs.
Pló
Pois. Quando dei conta já o erro estava feito há bastante tempo. Ficou assim, olha, assuma-se o lapso. Às tantas ainda escrevo o 114. Só por causa das lógicas numéricas.

Até lá.

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