109a


CONTRA O CAVACO, CLARO!

A direita em Portugal é um produto da democracia nacional que se pode adquirir num supermercado perto de si, através de revistas de culto de sociedade, ou outros bens como o ar que se traz e o andar que se faz pelos corredores dos detergentes. A direita, ainda que exista, é uma coisa dificilmente classificável perante a ausência de uma estrutura filosófica e ideológica que produza no tecido social o reconhecimento de uma conduta politica característica. Pode traduzir-se, lato senso, por um conjunto de comportamentos que vão do politicamente correcto, ao beato extremista. E os pobres? Pergunta-se? Aos pobres dá a direita esmoler, esmola. E de resto, que se fodam os pobres.

Por exemplo, a direita é constituída por grupos sociais oriundos da cintura agrária de Beja, e de Évora, e do remanescente salazarismo católico predominante em certas zonas rurais do país, como são os mais recentes casos dos integristas católicos. Estes grupos, na maioria dos casos, são por sua vez compostos por pessoas cujo défice de informação não vai além da frequência assídua a touradas e a casas putas em Espanha, passando pelas tradicionais feiras de gado em Beja, Ovibeja, e na Golegã, Feira do Cavalo, missas e padralhada com fartura. E quanto a qualidades de debate e argumentação, o que melhor se pode dizer é a técnica da mocada, vide, por exemplo, a conversa da maioria dos taxistas da pátria.


Pois, a direita. La destra, o lado estático e imóvel, tem as suas castas que se distinguem entre si, e dos restantes seres humanos do planeta, pelo uso de patilhas, pelo tamanho do Mercedes e dos cachuchos que usam nos dedos – algumas senhoras de direita que conheci, também possuem por imperativo da genética patilhas, ou então, grandes perucas alouradas e armadas ao melhor estilo Rococó -, mas também a bota mandada fazer por encomenda e com salto de prateleira. Reforço, que para além do formal, poucas ideias tem a direita portuguesa. O caso do Dr. Paulo Portas é um caso de direita de qualidade? É sim senhor. Mas um caso mais sério, dado ser de uma ilusão pós Brideshead Revisited, ou as memorias sagradas e profanas do Capitão Charles Ryder. Uma colagem, dirão. Certamente, e ao melhor estilo pós-moderno, onde não falta o conjunto freudiano referencial, como é uso nestes casos. Do mesmo modo se poderá dizer que a série Dallas influenciou fortemente alguns grupos dominantes da direita rural nacional, como se viu durante a década de oitenta do século XX.


Um império de ruralidade atravessa, assim, a ideologia vigente da direita. Recentemente, juntaram-se às ordes de direita, os pais, as mães e os padres, dos filhos da direita que até então frequentavam o ensino particular e cooperativo, que o actual candidato da direita resolveu dar uma machadada, aquando da promulgação da Lei que diz que o Estado já não está para aturar grupos confessionais, quando oferece a melhor preço e de qualidade superior o ensino público logo ali ao lado. O Cavaco, nesse dia, estava certamente às escuras.


Nos anos oitenta a direita reviu-se no homem do leme que enterrou isto tudo. Outros se lhe juntaram sem saberem de que terra eram, sem possuírem nem bens, nem herdades, trazendo, sem sombra de dúvida, outra luz ao morganho: patos-bravos algarvios, construtores civis, jogadores de futebol, vendedores de jeeps e imóveis, agentes de seguros com jeito para a gestão autárquica, administradores de vários tipos coisas e gestores para toda a obra, jovens engravatados e filiados em jotas e esperançados num bom casamento com a filha do dono da fábrica dos lanifícios, todos, mas todos mesmo, sob a batuta do Professor Aníbal cavaco Silva que com a ajuda dos seus ministros desenvolveu este país ao ponto calamitoso que tão bem conhecemos. Quero dizer que na direita nacional cabe tudo, até mesmo o Vasco Pulido Valente e as suas crónicas – uma espécie de produto gourmet que a direita serve aqui e ali, com qualidades digestivas memoráveis - mas que não presta bons serviços. Etc., etc., etc..


Amanhã, dia 23 de Janeiro, temo que até os pastorinhos de Fátima irão votar no Cavaco.

Por isso, o melhor é não ir em sondagens. Votem, mas votem noutro, menos no Cavaco. Votem noutro que tenha realmente hipóteses de passar à segunda volta, para nos vermos livres do Cavaco.

Comentários

Mensagens populares