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Como são feitos de vapor, os habitantes da cidade não podem deslocar-se sem correr o risco de perder uma parte de si em qualquer lado. São desfocados e dificilmente aparecem inteiros nas imagens recolhidas. Há uns que são bastante completos e que vivem em casas de vidros. Mas isolados dos outros perdem rapidamente o interesse pela vida mundana e acabam por petrificar. A maioria perde a totalidade da sua forma original várias vezes ao dia, e pouco se sabe se se reconstituem ou não. Os seus perdidos vapores permanecem no ar a uma altura não muito superior à da estatura média de uma árvore de grande porte. É do conhecimento geral que perdem os sapatos quando se lhes evaporam os pés e que os há aos milhões espalhados pelas ruas em virtude do facto. Mas também anéis desaparecem se os dedos das mãos se esfumam, ou outros objectos que se poderiam usar noutros sítios corpóreos se vão se o corpo que os segura se vai. O vapor é mais intenso a certas horas do dia: ao meio-dia, por exemplo, há sempre mais vapor que ao fim da tarde. Também as condições atmosféricas têm um efeito directo no mistério da evaporação.

Comentários

Anónimo disse…
O vapor da minha infância tinha sons e navegava por sobre as palavras da cópia ou do ditado. Carregava soldados que perdiam sempre: a inocência, as asas, às vezes tudo. Nas cópias os vapores navegavam entre palavras e sonhos de aventura. Afastavam-se lentamente sobre as águas e quando desapareciam na névoa ganhavam asas.
Quando voltava, antes de se avistar, as sereias anunciavam o seu regresso e eu preparava palavras de boas vindas.
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Anónimo disse…
A minha infância foi longe e saí dela através de um caminho de sentido único. Hoje é só vapor!
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