69


Estou da barriga para a frente a doer-me um ouvido que apita sempre que me sento ou me entrego a dormir. Nada, de resto, é tão simpático como o número 69 que são dois peixes que se mordem de prazer. E as ideias vão e vêm sem as pesar, por que se as meço logo a dona razão as trata de matar e a coisa a sair sai sem agilidade. Vai daí, hoje é dia de esticar a pernas e de cheirar as flores do campo, os marmelos virão mais tarde mas adivinham-se depois do estio, depois que nos varram os ventos quentes de Espanha até à secura dos ossos. Vou abrir todas as janelas cá de casa para que se misturem os móveis com os pólenes da estação, os tapetes com as ervas daninhas, as abóboras que despontam num canteiro especial com a literatura da prateleira bolorenta. Ouço cornetas, sanfonas e buzinas de luz que o tempo se pôs de modos mais temperados e que é como se nevasse em pleno Abril que ainda está para chegar.

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