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Hoje estou dado a uma sonolenta tarde de modorra que me despertou o intelecto para outras aragens. Por isso, sem mais delongas, aproveito para declarar guerra à arte-gadget. Sim, eu disse que declarei guerra à arte-gadget. Sorvetes, berloques, lavadeiras de Caneças, antigas profissões de Lisboa: padeiros e coleccionadores de arte, por exemplo. Não, obrigado. Prefiro viagens à Pérsia, mesmo que pela mão distante e desconhecida da senhora Schwarzenbach. Prefiro descobrir a palavra da enfermidade que agrava o mundo sem lhe encobrir o padecimento. Decididamente, viagens à Pérsia, mesmo que ela não exista. Gadgets, não, porra! Assim, sempre que me cruzar com um objecto arte-gadget não vou olhar. E se olhar não hei-de pensar no que aquilo possa ser, hei-de reflectir para dentro, sumariamente, olha uma coisa-gadget, voilá. Provavelmente nem será nada de especial. Modorro-me, por hoje, como um gato distraído das responsabilidades do mundo.

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