62



Eu tinha um pescoço longo e esguio e quando caminhava pelas ruas da minha cidade ia nele pendurado para a frente. Um dia o meu pescoço partiu-se. Fracturou-se em mil pedaços de luz e dor.
Eu tinha umas mãos alongadas que pareciam umas patas delicadas de obreiro sem dono. Eram como perfeitos pêndulos, fosse o meu corpo um relógio de precisão. Um dia uma das mãos não quis responder aos pedidos do papel porque chovia e deixou de falar como estava habituado a que falasse.
Eu tinha umas pernas que aguentavam marchas de muitos quilómetros e andava nelas pelas distâncias do mundo sem me cansar muito. De tanto correr nas pernas gastei o músculo, perdi a voz e a razão.
Ah! Aqui as pedras falam como se fossem deuses.

Comentários

Mensagens populares