fourty seven (47)


Era o dia da véspera da noite de natal e tinha a alma num ir e num vir constantes. Era assim quase como que um tormento dulcíssimo, como quem tem um fio de coisa doce na boca. Seria mesmo capaz de saborear aquilo que a nada sabe e de tocar o nevoeiro com a língua hirta, se a tal me predispusesse nesse instante. Foi nesta espécie de lugar que antecede o sangue a ferver no corpo que me encontrei. Ali onde não morava outro nome que mereça lembrar, sentado a olhar as pernas cruzadas. Penso que levitaria se houvesse menos ruído em volta, não tenho bem a certeza, mas acho que o faria sem hesitação fosse o espaço menos ruidoso. E fiz até um desenho disso, a traço grosso cheio de expressão grossa. Enquanto que naquilo a que ainda hoje chamo mente se adensava uma espécie de poema que revisitava o teu magnífico cu. O teu cu, o teu cu, o teu honroso bom cu. E pensei três vezes sem perder o tino, o teu soberbo cu é uma coisa do outro mundo. Cheguei mesmo a decifrar todas as letras do meu poema, tal era a visão, antevendo o desenrolar da história. Sim, o poema cresceu e era véspera de natal. Debaixo das saias dos sinos, nas igrejas do mundo inteiro, lá fora, zurziam poderosos badalos, martelos e rimas de erecção. Era natal, com um raio, e o teu cu era um encanto com luzes e bolinhas, bolachas de gengibre e os coros de anjos vociferantes cantando nas alturas. E eu não indiferente a tamanha alegria, só tinha olhos para o teu cu de vinho doce, canela e outras especiarias.

Comentários

Mensagens populares