Trinta e dois (32)




Em Outubro fico sempre mais velho, invariavelmente. Acontece todos os anos em Outubro, queixo-me disso à brava, mas depois passa, levemente. Por aqui nada de novo, (suspiro longo e suave a fingir que fumo, suspiro longo). Estou como que a acordar para este Outubro de ficar outra vez e, oficialmente, mais velho como quem madruga antes do despertar da bela aurora do mesmo lado em que supostamente se adormeceu sob as estrelas. Quantas estrelas no céu de Outubro haverá? Não sei. Mas sei que ainda é Verão pelo tempo quente que faz. Amanhã choverá. É tudo igual ao dia de ontem, e eu aqui a olhar a mesma coisa que já vi.
Está tudo como ontem, o fumo que sai da chaminé do vizinho que mora no rés-do-chão e, sem tirar nem pôr, o comportamento obstinado da vizinha louca que costura à porta de casa um tecido vermelho como se fosse uma rainha distraída, a mulher da frente que algazarra ao ar a questão política em que se envolveu acesa na discussão que teve com o homem do café do lado. Há carros por aqui como já os havia. Carros que passam de muitas cores a voar pelo tecto do mundo. De resto, a vida passa e eu que a vejo fugir dou por ela mais à frente no que já vivi. Iguais são a pé ou de bicicletas os sorrisos dos desconhecidos embaraçados quando apanhados com as calças nas mãos e as andorinhas que se já foram embora e que deixaram o seu espaço aéreo por inteiro à disposição dos morcegos ceguinhos. É tudo semelhante ao que sempre foi. Não há muito de interessante para ver por aqui. E o Sol por mais que se queira não brilha com a mesma força para todos como diz a canção vermelha. É por certo a explicação da não existência de Deus. Quando o mundo morrer Ele também morrerá, enfim, uma tragédia, uma tragédia à escala universal. Ah, apetece dizer, cheio de melancolia, que grande merda é a felicidade!

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