36 (trinta e seis)


Hoje não me consigo decidir sobre o que fazer com o dia assim. Sento-me numa cadeira de deck como se estivesse em pleno Atlântico, como se fosse um incógnito passageiro. Sou surpreendido por uma esfera amarela que se sobrepôs entre os meus olhos e o resto do mundo impedindo-me de ver mais longe. Bom, penso, o resto é mar e longe de tudo nada mais há para ver que aquilo que vejo. Descanso o peso do corpo noutra posição sentado. É um bloqueio poético, parece-me. Mas não estou muito preocupado com categorizações em volta da esfera amarela, sendo uma coisa mística, pode ser o que eu quiser. Limito-me a considerá-la e é tudo. Uma esfera é uma esfera e esta é amarela. Como não tenho caminhos urgentes a seguir não me incomoda nada a mancha amarela. Vou deixa-la estar onde está. Parece que lhe vejo uns homenzinhos atarefados a fazer qualquer coisa que não consigo identificar. A esfera amarela emite uma luz estranhamente fria e é por isso que os homenzinhos lá estão. Mas não é por tudo isto que não consigo tomar decisões. Não pretendo querer nada hoje, é tudo. Vou ficar exactamente onde estou a ver se vejo correr a poesia. Fico-me pelos detalhes, se não se importam. Alcançar pouca coisa ou quase nada é o objectivo do dia.
Acho que me vou sentar a comer gelatina e ficar a olhar para o que há-de aparecer a seguir à esfera amarela.
Sou uma paisagem. É isso sou uma paisagem e movo-me lentamente entre o arvoredo da minha cabeça.

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