Vinte e um (Twenty one)

Olhem, tive uns sapatos que se estragaram. Um cão que morreu na casa de outro homem a olhar para mim. Um pássaro que deixou de cantar assim de repente. Uma coisa de trazer na mão que não me lembro para que servia e que por isso a guardei em lugar fresco e seco e que não sei exactamente onde. Tive uma mão direita e outra esquerda. Ainda as tenho. Tive menos idade e já fui menos chato. Uso as mesmas calças de sempre para evitar confusões entre as outras que não visto. Às vezes olho pela janela e pergunto-me o que estou aqui a fazer. Nesses dias faço um desenho e acho que sou, talvez, uma pessoa inteira. Vivo na esperança de poder comprar um novo par de sapatos, mas não gosto de sapatarias por não haver pastéis de nata, nem café. Ah, o sono chega-me quando menos me dou por sonolento. Não sei o que faça. Apetecia-me um rebuçadinho da Régua.
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