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XAGRAIM, HISTÓRIA DA CIDADE DE LUNETA, OU GÓRGIAS O MORTO.
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Destas ávores muito altas que existiam no Jardim dos Lázaros, na cidade de Luneta, penduravam-se as lagartas de fiar que cerziam fios de seda que os operários fiadores controlavam com rigoroso zelo. Górgias olhando para cima contemplou-os e viu brilhar a seda sob as copas das aurocárias. Depois viu as ordens nocturnas que eram compostas por homens que usavam chapéu alto e que vestiam fraque azul escuro, e que estavam encarregues de fazer cumprir as directrizes provenientes do plano celestial, eram sérios de feições como que feitos de ceras. Górgias viu Hipófenes e os Deuses Menores através de um buraco que existia no céu, viu os três loucos sentados à porta do jardim, um velho que brigava com um insecto gigante parecido com um gafanhoto, o café "Le Chien qui Fume". Saiu do lago limpando com gestos lentos as marcas do seu nascimento. O seu corpo secou quase de imediato, sendo possível observar as escamas que o cobriam e as cores que cintalavam à luz do dia. A sua capacidade de ver alargou-se até a uma praça central e pode registar tudo o resto a partir desse ponto de vista. Sentiu-se bem, respirou fundo e baixou a cabeça enquanto limpava do seu corpo nu as algas do lago de onde nascera. Pairando no ar dirigiu-se ao limite norte do jardim e previu o momento exacto do fim dos tempos. Deteve-se dentro de si observando o percurso da sua vida. Teve, assim, acesso ao conhecimento de todos os elementos que produzem a vida e a morte. (continua)

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