11 (eleven)


Era a véspera de tudo, um dia infinito. Quando os outros chegaram já lá estávamos há algum tempo debaixo da árvore que fazia sombra e um de nós recebeu-os em silêncio. Exprimimos nos nossos gestos a inquietação da boca seca e o olhar vago virado para dentro, de quem comera figos à bruta, denunciava o momento. Não tenho bem a certeza, talvez caminhássemos de um lado para o outro e sem falar muito. Éramos tantos do pouco que sentíamos. Foi assim até que chegaram os outros. Sentimos estar perto do fim do mundo. Soprava uma brisa vinda de um lugar sem nome que todos sabíamos existir. As folhas da árvore que nos abrigava fugiam da sombra que projectavam no chão. Por fim, em silêncio, chegaram. Eram muitos, e poucas palavras depois o negócio tinha decorrido como combinado. Trocámos os nossos sonhos pelos deles, os deles pelos nossos. Ainda olhámos para trás para os ver partir. Tomámos de imediato a posição de sonhar com a novidade na mão. Engoli o meu pedaço logo ali e acho que os outros também. Sonhei com uma bela francesa que era mulher de um homem que tinha um restaurante à beira da estrada e que servia a todos com a mesma graça. Sonhei com a cor da sua carne nua. E daqui em diante todas as cenas do meu sonho foram de amor carnal explícito. Sonhei cem anos de seguida sem parar. Sonhei cento e vinte anos de seguida sem parar. Sonhei quase duzentos anos seguidos. Nunca mais acordei.

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