Sete (Seven)

Com o coração a bater largo saltei para dentro da noite. Engoli o ar frio da madrugada para manter vivo o ritmo da pedalada. Como um obstinado bootleger cruzei o negrume da Serra de Monfurado e tive visões como só a noite as pode dar. Rolei na companhia da Brigitte sobre uma estrada lenta até alcançar o primeiro objectivo da curta viagem. Vi o dia de cor malva a nascer redondo do outro lado do calcanhar do mundo. Tinha a noite cumprida e a pesar nos olhos quando desci da locomotiva. Esperei, numa estação de caminho-de-ferro saída de uma história antiga, pela ligação comendo laranjas e bebendo café. Finalmente, de novo num comboio com destino ao Sul adormeci na cadência da máquina. Apeei-me perto do mar e voltei a rolar por um caminho agrícola que me levou pela serra algarvia abaixo. Encontrei, por fim, o Arade verde exausto. A estrada poeirenta encenou o fim da minha viagem à entrada de um portão de pedra quando a Brigitte deixou de ser uma bicicleta. Cheguei, disse aos travões em uníssono.

Comentários

Anónimo disse…
Pior que perder o norte é quando se perde o sul, o grande sul. Kerouack Jack é que a sabia toda!
Xai

Mensagens populares